sexta-feira, 3 de junho de 2011

Identidade Negra e Educação Infantil

A seguir uma postagem de um trabalho realizado para a disciplina de Estudos Afro-Brasileiros ministrada pela Professora Ilka Boaventura Leite no ano de 2009. Este trabalho tinha como objetivo uma mostra fotográfica, uma união entre fotografias e literatura especificas. 











Ela sorri, enquanto amarro seu cabelo e me diz: “Meu cabelo é ruim Tia, é de “nego”! Ouvi esta afirmação de uma criança negra, de mais ou menos 4 anos. Uma pequena frase rica em conteúdo que dá o pontapé inicial do que tentarei demonstrar através deste dialogo entre as fotografias e temas dos estudos afro-brasileiros: identidade negra, consciência racial e Educação Infantil, estas fotos foram tiradas na Creche Morro do Mocotó, no Maciço do Morro da Cruz, na Grande Florianópolis. Sabemos que é na infância que os seres humanos, iniciam um processo de construção da identidade, e o desenvolvimento da consciência na construção, pela qual, vê e se insere no mundo. É pela importância desta fase de desenvolvimento que os cientistas em educação discutem o temas de identidade e diversidade na Educação Infantil.
 Teles(2005) “Seria nesse processo de socialização que a criança constrói sua identidade, pois o espaço de educação infantil possibilita as interações entre as crianças e os adultos e a convivência com as diferentes culturas presentes na sociedade. No entanto, dependendo de como é tratada a diferença, ela poderá  contribuir para o reconhecimento do outro e para a constatação das diferenças como algo a ser valorizado”.
Seguindo esta definição, que elucida sobre a construção da identidade do “diferente” a partir de como os profissionais “lidam” com a diferença que se aproxima do ponto que quero abordar. De um ponto de vista antropológico todas as identidades são construídas, o ser negro, no sentido de reconhecer-se negro, segue o mesmo processo. No Brasil, após anos de verdadeiro inferno vivido pelos africanos traficados para servir de escravos como mão-de-obra barata, se deu a abolição, iniciando um longo processo de reconhecimento dos negros como sujeitos de direito, do resgate de sua cultura, da busca de sua identidade, do que eles eram ou foram, antes de darem as voltas na arvore do esquecimento. Olhando para Florianópolis, os negros após a abolição da escravatura, iniciaram no trabalho livre, mas seguiram compadecidos com a sua condição de inferioridade para com os brancos. Iniciou-se um processo de deslocamento da população negra para a periferia da cidade, que naquela época eram os morros da Capital, onde hoje, fotografo, e levanto esta discussão. Como então, poderíamos modificar esta realidade de exclusão dos negros na Capital, mas uma vez batendo de frente com a discussão da “democracia racial”, que ainda existe, a partir da Educação Infantil na formação destes novos indivíduos, e de uma nova forma de sociedade. Não seria então, começar pelo começo? As pesquisas nesta área afirmam que a criança negra constrói a sua identidade e consciência racial com base nas informações provenientes de dentro e de fora da escola. Sendo na escola, o local em que as crianças negras aprendem ou “apreendem” o significado de ser negro na sociedade. Os trabalhos realizados sobre diversidade no meio Infantil, prevalece dentro de territórios negros urbanos[1]. São inseridos lentamente, trabalhos que surgem nos ambientes escolares em que a questão racial é latente em instituições que atendem uma demanda negra, branca e mestiça. Porque saliento isto, porque é neste ambiente, e por ser este ambiente que as relações raciais surgem como temas necessários a serem difundidos pela instituição.


[1] Territórios negros urbanos no sentido de que hoje em Florianópolis, os remanescentes de escravos se concentram ainda em Grande Parte no Maciço do Morro da Cruz, e este, modificando-se pela mistura com os demais grupos, alguns deles de exclusão, seja ela étnica, social, econômica, racial ou de genero.

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